Qualidade ou velocidade - uma reflexão
Muitas vezes, em prol de busca inglória de um sentido de produtividade falso, muitas empresas descuram a qualidade em busca da velocidade.
A necessidade de corresponder a expectativas, de atingir números e percentagens, de cumprir prazos (muitos deles irreais logo desde início) faz com que muitas empresas tenham como práticas comuns algumas atitudes absolutamente incorretas no que toca a garantir a qualidade do que estão a desenvolver e se comprometeram a entregar.
Quase que num jogo de empurrar com a barriga os problemas para o próximo (ou então numa errada ideia de o cliente se manter por conta da necessidade de resolução dos problemas que foram escondidos) estes comportamentos e ideias vão-se mantendo e enraizando ao longo do tempo.
E quando escondidos, não digo que os problemas não sejam visíveis e tenham até sido detectados pela equipa de QA de forma correcta. Mas existem umas “regras surdas” que os obrigam a fingir que não encontraram problemas, a manipular dados para ter resultados certos ou mesmo a modificar o resultado final dos testes por forma os resultados finais sejam todos de (falso) sucesso.
É preocupante quando essas ideias, modus operandis e ideiais se espalham dentro da equipa e se tornam a forma de trabalhar comum e assumida como correcta (embora em boa verdade todas as pessoas minimamente conscientes e profissionais saibam que não o é).
Muitos dos novatos nas equipas, quando contestam certa forma de trabalhar, porque sabem que não é correcto, que não faz sentido e é quase uma desvalorização do seu conhecimento e daquilo que defendem (já não falando das boas práticas que estudaram, falemos apenas do bom senso comum) são aconselhados a fazer o que todos fazem, aquilo que a chefia disse um dia para fazer e que que não “levante muitas ondas”, é fazer como todos fazem e pronto.
Claro que isto desvirtua logo à partida aquilo que é o objectivo do nosso trabalho como pessoas que testam e garantem a qualidade de um produto ou serviço. Existem assim muitos QAs frustrados e muitos QAs conformados.
Enquanto estes profissionais não tiverem espaço de fala e voz para mostrar o que se passa, a qualidade continuará a ser apenas uma teoria, uma coisa para dizer que se tem, “para inglês” ver.
E assim as más práticas vão continuando, sendo passadas e partilhadas, por um tempo indeterminado, quiçá infinito, enquanto o projecto durar. E muitas vezes levam esses maus hábitos para outros projectos futuros.
Eu sei que por vezes é difícil erguer a voz e ir contra as regras instauradas muito antes da nossa existência no projecto ou equipa. Mas tentemos, nos nossos actos e trabalho, decisões, opiniões e momento de fala, alertar para o que se passa.
Questiona. Partilha ideias. Procura informação que possa fundamentar a tua opinião e as tuas ideias de melhoria.
Não tenhas receio de propor melhorias. Existe um ditado em Portugal que diz “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E mesmo que isso não venha a acontecer, ou seja, que as tuas ideias não sejam ouvidas e/ou implementadas, pensa que a tua identidade profissional continuará contigo para sempre, portanto, aquilo que tu acreditas e consciência que é a forma correcta, mesmo que possa não ser aplicada/implementada/utilizada de forma correcta no projecto actual, irás um dia mudar e levar contigo essas ideias, esses conhecimentos, esse profissionalismo.
Eu sei que por vezes (muitas vezes) temos de nos adaptar à realidade. Eu sei, já passei por isso.
Mas o que tenho consciência é que o meu profissionalismo não foi afectado ou modificado. Apenas tive uma adaptação às necessidades da realidade, mas o que sou e o que sei, mantiveram-se intocáveis. E continuei a ler e aprender, para que possa crescer e evoluir. E tornar-me melhor profissional, com consciência do que é errado.
Não quero estar aqui a incitar mau estar nem sequer nenhuma guerra, nada disso.
Mas sim a defesa da qualidade, para que a palavra possa ser usada no seu verdadeiro sentido.
Espero que faça sentido!